Divagações: Bel Ami

Para o bem ou para o mal, dramas históricos são figurinhas raras na Hollywood de hoje em dia. Seja culpa das dificuldades técnicas de pro...

Para o bem ou para o mal, dramas históricos são figurinhas raras na Hollywood de hoje em dia. Seja culpa das dificuldades técnicas de produzir um retrato fidedigno de uma época diferente da nossa ou do próprio desinteresse do público a respeito do gênero, temos que admitir que Bel Ami, pelo menos, chama a atenção por ser algo diferente do que estamos acostumados a ver nos cinemas.

Baseado em um livro do autor francês Guy de Maupassant, temos em Bel Ami a história do jovem Georges Duroy (Robert Pattinson), um ex-soldado que acaba descobrindo uma nova vida como jornalista em Paris. Seu charme acaba por atrair a atenção de diversas mulheres poderosas da cidade como a inteligente Madeleine Forestier (Uma Thurman) e a aristocrata Clotilde de Marelle (Christina Ricci). Duroy, vindo de uma família pobre, aproveita as graças da elite local para se transformar em um alpinista social que busca pelo poder em meio a uma sociedade decadente.

Enfim, posso dizer que Bel Ami me reservou várias boas surpresas ao mesmo tempo em que deixou seus principais defeitos bem claros. Como acontece em toda a adaptação, existiram problemas ao transpor uma história relativamente complexa para os cinemas, sobretudo uma que não usa uma linguagem narrativa muito apropriada para as telas. O livro trata de relações sociais, de conspirações e traições. Assim, quando condensamos um universo como esse para o cinema, as lacunas são mais do que evidentes e diversos desenvolvimentos são apressados para fazer a história fluir. Não é difícil ter a impressão de que o filme é atropelado e inconsistente.

Outro ponto que vem sendo bastante criticado desde o início da produção é a escolha de Robert Pattinson para o papel central. Porém, não considero que a atuação dele tenha sido particularmente incômoda. Ele é efetivamente capaz de dar solidez ao papel, sobretudo na faceta mais arrogante do protagonista. Porém, falta a ele ainda um pouco de desenvoltura para passar para as telas o suposto magnetismo do personagem que em momento algum é verdadeiramente carismático ou sedutor. Quanto ao elenco de atrizes  que também inclui Kristin Scott Thomas e Natalia Tena –, todas estão (felizmente) muito boas em seus respectivos papeis, cada uma representado um arquétipo, o que de certo modo acaba ofuscando um pouco o próprio Pattinson.

De todo modo, Bel Ami não é um filme ruim. Com certeza não vai agradar multidões ou gerar uma grande comoção, mas não deixa de ser uma adaptação interessante e bem feita, com uma boa fotografia e uma visão interessante do fim do século XIX – sobretudo no que diz respeito a figurinos e locações. Não tenho dúvida de que os mais exigentes vão achar a história sem sal, afinal, eu mesmo não me empolguei muito. Mas quem sentia falta desses romances históricos pode matar a saudade, desde que não espere nada muito memorável.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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