Divagações: Rise of the Guardians

Por mais que tenha emplacado algumas boas animações, a DreamWorks não consegue perder a cisma do eterno segundo lugar, sempre ficando so...

Por mais que tenha emplacado algumas boas animações, a DreamWorks não consegue perder a cisma do eterno segundo lugar, sempre ficando sob a sombra da Pixar. Suas obras, apesar de competentes e bem sucedidas financeiramente, não conseguiam superar ou sequer alcançar o nível de carisma que os filmes de sua rival atingiram. Rise of the Guardians, porém, despontava como um sucessor espiritual de How to Train Your Dragon, com um visual mais sóbrio e uma aparente preocupação com o roteiro, o que deixou muita gente especialmente animada.

Apesar de ter vindo com um pé na onda de filmes para o Natal, Rise of the Guardians tem pouca relação direta com essa data, já que o foco não é no bom velhinho, mas uma figura pouco conhecida por essas bandas, Jack Frost. Jack (Chris Pine) é uma entidade brincalhona e irresponsável, que não tem muita noção do seu propósito. Fazendo nevascas pelo mundo, ele busca por alguma pista que o leve a entender melhor o que realmente é.

Assim, ele aceita quando os guardiões – um grupo de seres mágicos, liderados por North (Alec Baldwin), cuja a missão é proteger as crianças de todo planeta – o recrutam para ajudar a combater Pitch (Jude Law), um antigo adversário que finalmente retornou. Junto de North, Tooth (Isla Fisher), Bunny (Hugh Jackman) e Sandy, Jack tem de encarar não só o seu inimigo, mas também o seu próprio passado.

A premissa de Rise of the Guardians foi, sem dúvida, uma das coisas que mais me interessou no filme, já que eu pessoalmente gosto muito desse clima um pouco mais denso que tentam passar aos contos de fada. Porém, eu me deparei com uma execução que deixou a desejar e em vários aspectos diferentes.

Apesar de a animação ser caprichada e o 3D bem melhor usado do que em grande parte dos filmes que tentam sem sucesso utilizar esse recurso, o resultado final não empolgou, justamente pela história ser rasa demais até para os padrões da DreamWorks. A ambientação é legal e os personagens são interessantes – cada um com o seu próprio ambiente, o que é muito bem construído –, mas faltou uma liga capaz de prender todos esses elementos de modo satisfatório.

A história do garoto Jamie Bennett (Dakota Goyo), que costura o filme, é uma tentativa falha de passar uma mensagem que sequer é desejável. Praticamente todos os filmes de Natal já usaram a exaustão a premissa de que é necessário acreditar no apelo a magia do Natal e na equivocada relação disso com a inocência infantil. Não sei se é cinismo da minha parte, mas não acho que Rise of the Guardians fosse um filme que precisasse apelar para esse tipo de saída fácil, já que o conflito de Jack Frost e a proximidade situacional dele com o vilão são facetas que realmente poderiam ter sido bem exploradas.

De qualquer modo, as coisas ficaram apenas na promessa. Rise of the Guardians é muito melhor no papel do que na prática, desandando justamente na tentativa de agradar a toda família e ao subestimar a inteligência não só dos adultos como das crianças, que poderiam muito bem digerir algo menos bobinho.

Embora saiba que esse filme satisfez o seu público, não posso deixar de me decepcionar com uma obra que não chegou nem perto de onde prometia, sobretudo através de decisões que foram claramente comerciais. Até esse ponto posso estar sendo rabugento, afinal, nunca fui muito ligado em datas comemorativas. Se você, pelo contrário, consegue ter essa dose de ingenuidade, não vejo porque Rise of the Guardians não poderia funcionar. Ao menos para mim, ainda não foi dessa vez que a DreamWorks acertou.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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